- Nº 1781 (2008/01/17)
Nos interrogatórios de Portu e Sarasola

<em>Guardia Civil</em> tortura suspeitos

Europa
O Supremo Tribunal espanhol acusou Igor Portu e Martín Sarasola da autoria dos atentados no Aeroporto de Madrid. Ambos afirmam ter sofrido torturas durante dias, donde resultou a suposta confissão.

O juiz da Audiência Nacional, Fernando Grande-Marlaska, concluiu que Igor Portu e Martín Sarasola podem ter estado envolvidos no atentado contra o Terminal de Barajas, em Dezembro de 2006. De acordo com o magistrado, os jovens integram o comando da ETA que terá levado a cabo a explosão e, alegadamente, preparavam outra acção na capital espanhola.
Marlaska fundamenta a acusação em informações veiculadas pelas autoridades policiais e governamentais, segundo as quais Sarasola terá confessado a autoria dos atentados em Barajas. Acresce, também, de acordo com as mesmas fontes, que a Guardia Civil terá encontrado componentes de bombas cuja posse é atribuída aos jovens, embora tal careça de fundamentação cabal.

Torturados durante cinco dias

Menos amplificadas que a versão oficial, são as provas que indicam que Sarasola e Portu - este último internado com ferimentos graves nos cuidados intensivos do Hospital de Donostia, no País Basco, - foram torturados durante dias, admitindo-se que a suposta confissão de Martín Sarasola tenha sido obtida sob coação violenta e continuada.
Apesar do ministro do Interior espanhol, Alfredo Rubalcaba, sustentar que as lesões sofridas pelos indivíduos são resultado do uso «regulamentar» da força durante e após a detenção, nem o próprio Marlaska foi capaz de apagar do auto de acusação os relatos, coincidentes em todos os pontos, dos jovens sobre a detenção, dia 6, na localidade de Mondragon, e sobre o ocorrido durante o período de interrogatório em regime de total incomunicabilidade.
Quer Portu, quer Sarasola afirmam não ter oferecido qualquer resistência à prisão, como alega a Guardia Civil para justificar as múltiplas escoriações. Testemunha ocular ouvida pelos magistrados confirma que os jovens permaneceram calmos quando abordados pela polícia, e em nenhum momento tentaram a fuga ou procuraram obstruir a busca efectuada ao veículo e às mochilas, factos que levam a crer que nada tinham a temer perante as autoridades.
Depois da revista, dizem Portu e Sarasola, a Guardia levo-os para junto de um rio, em Arrasate, onde começaram as torturas. Pontapés, murros, ameaças de morte com arma de fogo, «sugestões» para que confessassem, simulação de afogamento, são apenas algumas das práticas que, depois, continuaram nos calabouços, denunciaram.

Indignação alastra

O tratamento infligido contra Igor Portu e Martín Sarasola e a subsequente acusação está a suscitar uma onda de indignação.
No Parlamento Europeu, o sueco Jens Holm, do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica, denunciou o sucedido e questionou a Comissão Europeia e o Conselho da Europa sobre os casos de Igor e Martín, alvo de uma investigação em curso por parte pela Amnistia Internacional, lembrou.
Indignada, também, a autarca da Acção Nacionalista Basca, Marian Beitialarrangoitia, pediu aos presentes num comício no âmbito das próximas eleições em Navarra e Euskadi, que aplaudissem Portu e Sarasola, gesto que, disse, visava manifestar o repúdio pelo tratamento a que foram sujeitos.
Reagindo a tal iniciativa, as autoridades judiciais espanholas acusaram a eleita local de «apoio ao terrorismo», e o governo admite mesmo avançar para a ilegalização da ANV.
A prática de tortura por parte do Estado espanhol tem sido reiteradamente condenada por diversas organizações. Dados da Coordenadora para a Prevenção da Tortura, corroborados pela Amnistia Internacional, pelo Comité Europeu para a Prevenção da Tortura e pelo Relator das Nações Unidas, dizem que, só em 2004, o número de queixas contra o Estado espanhol totalizou as 800. O mesmo documento diz que entre 2001 e 2004, 227 membros das forças de segurança de Madrid foram indiciados por prática de tortura e maus-tratos.